domingo, 21 de junho de 2009

No túnel escuro do tempo: 1959-2009

Vivo em 2009. Não em 1959. Adoraria que Drummond estivesse vivo e escrevendo crônicas nos jornais ainda. Ele está vivo em minha prateleira.
E ele nunca teve que mofar horas atrás de uma fonte. Nunca teve de dar mil telefonemas para conseguir o daquela fonte difícil que vai te dar a manchete que o jornal quer. Ele nunca foi até um acampamento de sem-teto. Nem teve de sair correndo do protesto onde queimam pneu na rua porque o menino foi atropelado para ir até o palácio do governo e esperar a coletiva daquele ministro que veio hoje visitar a cidade. O que o poeta fazia era crônica. Coisa que muitos outros fazem ainda. Inclusive nem precisam ir até a redação para isso. Mandam de casa. Muitos que são magistrados, escritores, geneticistas, artistas plásticos, médicos também escrevem seus artigos... Simpaticamente podem até ser chamados de jornalistas, ao serem colaboradores. Têm seus empregos formais. Com salários, em geral, muito maiores do que o piso daquele repórter que meteu o pé na lama para cobrir a enchente.
Achando que o trabalho do editor setorial ou do repórter é igual ao destes articulistas de domingo ou igual ao do Manuel Bandeira (que eu amo e foi citado na ação) é que o STF decidiu discriminar jornalistas. Sim, discriminar, tratar de modo diferente, desigual e desrespeitoso.
Na lógica dos ministros, se Joaquim José já tirava dentes do pessoal na antiga Vila Rica, não precisamos mais cobrar diploma de Odontologia. Sim, ele alegou que podemos agir hoje em plena era da internet do mesmo modo que se agia antes da década de 50 quando se começou a plantar os cursos de jornalismo. Ele acha que quando eu me propus a fazer vestibular, escolher um curso superior, eu estava colocando o jornalismo em um patamar inferior ao da Biologia, da História ou do Direito, que estavam entre as milhares de opções do caderno de cursos da Universidade. Não, para mim e todos os que escolheram o jornalismo quando já estava estabelecido como uma profissão de nível superior ele não era um curso menor. Não era a mesma coisa que trabalhar no quiosque que faz um churrasquinho delicioso aqui na esquina. Não era, não foi e não será.
Para explicar que fazer aquele texto com base na coletiva do ministro ou no protesto dos moradores de rua é diferente de escrever as crônicas lindas do Fernando Sabino é que iremos agora propor uma Emenda à Constituição. Porque o texto jornalístico não é literatura, exige outra técnica diferente, com base na objetividade, atende a critérios que a notícia precisa ter. Pode ter um resultado menos belo do que o texto da crônica do Drummond, mas é devido a textos assim que a sociedade foi informada de falcatruas de magistrados, por exemplo. Para trabalhar este tipo de problema jornalisticamente, é preciso técnica e teoria exercitadas há décadas na Universidade e não iremos abrir mão de profissionais assim para lidar com a notícia.
Em tempo: não queria viver em 1959, naquele tempo, o sonho mais comum para mim seria cozinhar para meu marido. Não tinha curso de jornalismo aqui e poucas mulheres estavam nas redações.

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